quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Canindé precisa de tempo e paciência no Sampaio

A derrota para o Estrela do Norte e os dois empates consecutivos na Copa do Nordeste, deixaram o técnico Oliveira Canindé pressionado no comando do Sampaio. Tal pressão, em apenas dois meses de trabalho. Infelizmente a cultura imediatista do nosso futebol pode minar o que, futuramente, pode ser um bom trabalho de Canindé no Tricolor maranhense.

Obviamente uma eliminação do Sampaio diante do Estrela do Norte, o que acontecerá caso o Tricolor não vença o jogo de volta, é um resultado totalmente inesperado, entretanto é necessário pontuar alguns fatores antes de falar sobre essa pressão. Canindé está comandando um time que sofreu uma grande reformulação em 2015. A equipe perdeu jogadores chaves como Eloir, Jonas, Uillian, Pimentinha e Rodrigo Ramos, para os quais atualmente Raí, Edvânio, Gil Mineiro, Robert e Dida tentam suprir essas posições carentes.

Quase metade do time reformulado. Não seria da noite para o dia que esses jogadores conseguiriam o entrosamento. Além disso, há o fator da própria chegada de Canindé ao Tricolor. Apesar do treinador ser adepto do 4-2-3-1, esquema que foi base do time de 2012 a 2014, há aspectos novos que foram apresentados aos jogadores. É necessário tempo aos atletas para assimilarem isso.

Também chama a atenção é que Canindé tentou esboçar uma discussão sobre a tática que está sendo aplicada no Sampaio. Ao comparar o time com São Paulo comandado por Telê Santana, acabou sendo apontado como professor Pardal, entre outros aspectos. Entretanto, poucos realmente tentaram assimilar tal comparação.

Então, Canindé tem razão quando faz esse comparativo? Sim e não. Vale a pena recuperar tal citação do treinador.

- Não tem nada de novidade. O futebol brasileiro todo joga desta maneira. Só que em muitos casos, você tem dois pontas e os dois laterais embaixo, marcando normal, que passam pouco porque tem dois pontas que vão para cima. O Raí tem característica de ponta, que vai para dentro e busca a definição, o Gil Mineiro tem um pouco mais de movimentação. Mas os dois homens atrás, passam normal, organizam o time e chegam com naturalidade. Para as pessoas enxergarem isso e entender, é complicado, mas na minha cabeça não é complicado.

Neste aspecto é bom destacar o primeiro trecho da justificativa de Canindé. De fato, o Sampaio utiliza dois pontas, no caso Gil Mineiro e Raí, que ficam a frente dos laterais. Pelo meio, geralmente na faixa central, há a presença de Válber, enquanto Edvânio é o único volante da equipe no momento e Cleitinho completa o quarteto mais avançado do meio-campo. Esse 4-1-4-1 muda para um 4-2-3-1 com a volta de Curuca, mas não pelo fato deste ser mais um volante. Diferente de Cleitnho, Curuca também consegue voltar para marcar e sai no apoio para o ataque. Basicamente, o Sampaio, com todas as peças disponíveis nesse início de temporada, atua em um 4-2-3-1, que varia para um 4-1-4-1 quando o time tem a posse de bola.

Sampaio no 4-1-4-1 por causa da deficiência de marcação de Cleitinho e o apoio dos alas

Em relação ao comparativo com o São Paulo, a situação é válida no que se refere a função de Raí e Gil Mineiro. No Tricolor paulista de 1993, bicampeão mundial, na formação que foi para a partida contra o Milan, Muller era o ponta pela esquerda e Cafu atuava na direita, enquanto nas laterais, Ronaldo Luís atuava na esquerda e Vitor pela direita. As semelhanças entre o time maranhense e o paulista existem quando você compara as funções de Raí com Muller e Gil Mineiro com Cafu. Neste caso vale destacar que Muller não tinha tanta obrigação defensiva, tal como Raí tem no Sampaio. O comparativo entre a função de Gil e Cafu fica mais próxima, justamente pelo fato de ambos voltarem para auxiliar na marcação.

Ainda há outras diferenças, principalmente no esquema atual do Sampaio. Com a deficiência de Cleitnho para realizar a marcação, o time fica desenhado no 4-1-4-1, como explicado acima. O São Paulo naquela ocasião, contava com Pintado e Dinho como a dupla de volantes, mas também não tinha um atacante de referências. No caso do Sampaio, apesar da movimentação de Robert, há essa figura do atacante mais avançado, o que também diferencia essas equipes.

São Paulo-93: sem centroavante e participação efetiva de Palhinha, Raí e Cafu na recomposição
É bom frisar que essa comparação se resume apenas ao aspecto tático das equipes, sem entrar no mérito de comparativo da qualidade de um jogador com o outro.

Apesar das semelhanças, o Sampaio tem apresentado uma deficiência constante nesse início de temporada: a falta de variação durante os jogos. Vale destacar que contra o Coruripe e o Socorrense, partidas em que resultaram nos dois empates da Copa do Nordeste, essa falta de alternativas foi um dos motivos para a equipe ficar encaixotada pela marcação. Diante do Socorrense, houve uma dependência excessiva das jogadas pelas laterais, quando centralizaram o jogo, Robert marcou duas vezes, e diante do Coruripe, a equipe não conseguiu sair da marcação dos alagoanos, dependendo de jogadas de bola parada para tentar levar algum perigo.

Diante do Estrela do Norte, vale destacar a forma como os capixabas comandaram o primeiro tempo. A equipe do Estrelão conseguia realizar um trabalho quase perfeito de marcação, com os jogadores fechando as linhas e os espaços centrais, forçando o Sampaio a depender dos cruzamentos. Nos contra-ataques, os capixabas eram velozes e chegavam com facilidade, lembrando o próprio Sampaio, quando jogava em 2012. Na etapa final, Canindé conseguiu ajustar o time com a entrada de Geraldo e Simplício e até diminuiu o 3 a 0 para 3 a 2, mantendo os maranhenses com chance de classificação para a segunda fase.

É um início de trabalho, como citado em todo o texto há qualidades e deficiências, reconhecidas pelo próprio Canindé. Além desse aspecto, o treinador carece de peças de reposição, que, pelo andar da carruagem e a tradição do Sampaio, devem ser contratadas somente após o Estadual. Lógico que deve haver uma cobrança sobre o trabalho, entretanto, da forma como é feito atualmente, é algo sem sentido. A própria demissão de Canindé com apenas dois meses de trabalho poderia ser um equívoco no planejamento do Sampaio.

Vale lembrar que em 2014, quando o Tricolor chegou a sonhar com o acesso para a Série A, uma possível campanha surpreendente, foi minada justamente pela troca de treinadores. Primeiro a saída de Flávio Araújo, por causa de interferências da direção, depois Lisca que não contou com a paciência da torcida e da diretoria para mostrar o resultado de seu trabalho e por fim a chegada de Vinícius Saldanha, apenas como tapa buraco e com prazo de validade até o término da sequência de oito jogos na Série B.